O PAPEL DO TRADUTOR
por
ANDERSON BRAGA HORTA *
Já se disse que a tradução, se homenageia a literatura da língua-fonte, enriquece a língua-meta. Muitas vezes o próprio idioma a que se vertem os textos, sejam literários, técnicos, científicos ou filosóficos, ganha em vocabulário, em precisão, não sendo raro lucrar, ademais, novos torneios sintáticos, novas imagens, para não falar nas eventuais diferenças de percepção da realidade e da reação a ela. É verdade que a tradução mal feita pode maltratar o idioma receptor, mas a bem realizada amplia-lhe o universo.
Isso é evidentemente aplicável à tradução de novos autores ou de novos textos; mas — ainda que menos notório — benefícios que tais podem também advir de novas apresentações em vernáculo de páginas já traduzidas. Implicando a faina de traduzir uma leitura mais em profundidade que a habitual, tem-se a cada vez — ou pode-se ter — outra interpretação do original. É natural que diferentes realizações ocasionem alguma perplexidade; mas a exploração de possibilidades diversas abre o leque para a investigação minuciosa de obras de mais difícil leitura. Até aos exegetas da mesma nacionalidade do autor convém a consulta a traduções que dele se tenham feito: um olhar estranho decifra, por vezes, o que os olhos dos familiares mal enxergam.
Desse modo, cumpre o tradutor papel em seu sistema cultural, e contribui ponderavelmente para o entrelaçamento de todos os sistemas.
*
Fragmento de texto extraído de:
HORTA, Anderson Braga. Do que é feito o poeta. Brasília: Thesaurus, 2016. 412 p. ISBN 978-85-4090287-9
|